O transporte coletivo de passageiros merece prioridade

O transporte coletivo de passageiros merece prioridade

Escrito por: Mauro Herszkowicz

19/05/2023

O Brasil de meados do século XX impulsionou a expansão urbana e metropolitana baseada na abertura de vias destinadas ao transporte individual. Rodovias, pontes, viadutos e avenidas foram projetados para atender o crescente aumento do número de automóveis particulares. Ao mesmo tempo, algumas ofertas de transporte coletivo foram abandonadas: os bondes que operavam em algumas cidades brasileiras foram desativados (com raras exceções), assim como a malha ferroviária que atendia passageiros.

 

Essa opção pelo chamado “rodoviarismo”, no entanto, se mostrou perversa. Desde então, as cidades e as ligações entre cidades enfrentam extensos congestionamentos, perda de tempo no trânsito e o agravamento da poluição ambiental.  Ou seja, as cidades e seus arredores se tornaram ambientes insustentáveis e injustos do ponto de vista social, com a ocupação desordenada dos espaços pelo transporte individual e o transporte de passageiros relegado a segundo plano.

 

Percalços que se agravaram com a pandemia do coronavírus e com a queda acentuada do número de passageiros transportados por todos os meios de transporte coletivo. De acordo com o estudo Mobilidade Urbana no Brasil, realizado pelo Confederação Nacional da Indústria (CNI), para superar a defasagem em transportes coletivos serão necessários investimentos de R$ 295 bilhões, ou 3% do PIB (Produto Interno Bruto) de 2022, para expansão da rede metroviária, ampliação da rede de trens e construção de BRTs (corredores de ônibus), o que evitaria a migração de pessoas para o transporte individual.

 

No momento em que se discute a criação de um Marco Regulatório do Transporte Público, com atualização da Política Nacional de Mobilidade Urbana, e a aprovação do Programa Nacional de Assistência à Mobilidade dos Idosos em Áreas Urbanas (PNAMI), para garantir a gratuidade no transporte público urbano para idosos acima de 65 anos, a partir de repasses de recursos federais, é difícil aceitar que esferas de governo pretendam privilegiar e subsidiar o transporte individual, deixando de lado os necessários investimentos na melhoria da qualidade dos transportes de passageiros e na garantia do equilíbrio econômico-financeiro das empresas que prestam esse serviço essencial.

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